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O imaginário como projeto anti-colonial: a elaboração do corpo-perfomático

  • Foto do escritor: Monique Prado
    Monique Prado
  • 19 de out.
  • 2 min de leitura

A formulação do Imaginário me remete a algo recorrente na nossa vida cotidiana: os sonhos. O campo lúdico e criativo dos sonhos nos ajuda a pensar o imaginário, justamente porque escapam a racionalidade, ilustrando desejos mergulhados no inconsciente Mas para não entrarmos na perigosa dicotomia entre racionalidade e natureza, penso que elaborar o compreender o imaginário em sua totalidade perpassa por admitir os sonhos como elaboração mental e corporal.


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A ocidentalidade tenta colocar o corpo descolado da racionalidade e por isso quando pensamos no negro a subjetivação foi colocada a parte, como se esse corpo fosse programado a partir da irracionalidade, desprovida de efeitos criativos. Entanto, devemos resgatar o poder criativo de nossos ancestrais, visto que esses corpos conseguiram elaborar de forma muito sofisticada o futuro, seja pela recusa da padronização de um "eu essencialmente negro", seja pela elaboração de saídas cognitivas e imaginárias na diáspora.


Explico: não é porque a subjetividade negra não  tinha espaço de elaboração  na arena colonial pública, já que era visto como mercadoria, a subjetividade negra não prosperou intra negritude. Perceba que aqui faço uso do termo Negritude como aquele elaborado que recusa o enrijecimento do corpo e massificação do negro em si; pelo contrário, negritude é o reconhecimento de etnicidades e multiculturalidade múltiplas, um lugar de adjetivo subjetividade que em algum lugar encontra-se como corpo coletivo.  

Pois então voltando para a questão dos sonhos, seja em sua dimensão ontológica, quanto epistêmica, percebemos o quanto ele serviu de matéria-prima para imaginários e possibilidades, visto que a potência da memória sensorial do que traziam do berço civilizatório africano permitiu que a criatividade elaborasse uma série de estratégias de intersubjetivação, quais sejam: o movimento, as texturas, a alquimia de sabores sabores e  a produção de sonoridades.


Nossos ancestrais não tiveram medo de construir a partir do corpo performático elaborações internas de recreação do "eu" e pactuações externas de criatividades coletivas, seja na cozinha, na ocupação do espaço público ou na organização de uma intelectualidade pautada do pensamento-corpo. 


É preciso ressaltar que sonhar para os nossos ancestrais nunca foi regalia,. Portanto, reconhecer-se como um corpo de criatividade-performática, é dar vazão ao movimento que é capaz de realizar rachaduras em um sistema organizado secularmente para não permitir que a nossa existência prospere. E o que significa então sonhar, criar e imaginar dentro de uma estrutura moldada para abalar a nossa criatividade?

O nosso corpo preto é tão potente que mesmo massacrado durante o cotidiano do dinheiro, dos desafetos, dos preconceitos e discriminações,  busco uma forma de encontrar pulsão de vida. É claro que às vezes sonhamos com a queda com a ingerência, mas também o potencial do corpo nos ajuda calibrar emocionalidades. Por isso, também sonhamos com campos eróticos, territórios férteis e temporalidades multidimensionais. 


A estética da criatividade não para naquilo enxergamos de mais ruim e assustador. Com efeito, reconhecermos como corpo-performático é inclusive sobrepor essa estética. Assim, o imaginário retoma a sua potência e ressurgem outras dimensões outrora escanteadas pelo projeto colonial. Com isso, o nosso corpo recusa permanecer adormecido pela desgraça e passa a experimentar múltiplos afetos e recriar para si percepções sensíveis em relação ao espaço e tempo.

 
 
 

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©2025 por Monique Rodrigues do Prado

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