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Caminhos uterinos: o banzo do corpo-atlântico

  • Foto do escritor: Monique Prado
    Monique Prado
  • 27 de set.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de out.


As noções de encruzilhada e intelectualidade afetiva estão nesse breve ensaio.






Corpo transatlântico e desterritorialização são caminhos teóricos que quero seguir nesse campo de pesquisa no sentido de relacionar um tema que nos é muito caro e urgente: a aproximação entre uma realidade material concreta daquilo que causa bem-estar a partir do eixo das afetividades seja ao nosso corpo físico, espiritual ou mental.


O exercício de pensar o corpo pela memória é constante já que nossa existência é atropelada pela diagramação do cotidiano, de modo que aquilo que vai sobrepondo ameaça a fragmentar ou apagar a vivênci pretérita. Trazer para frente algo que afundado pelo cotidiano é um exercício: domar a memória.


Estava pensando sobre a minha relação com as primeiras vezes que notei a minha pequenez diante do cosmo e o quanto isso me faz sentir caminhos de retorno.


Recentemente fui para Ubatuba e lá pude experimentar essa sensação de estar muito próxima de um útero materno, embalada pelo som do mar, ele que acalmava a minha ansiedade por ter respostas imediatas sobre o futuro. A sensação de estar num território que acolhe, te abraça, como um útero é algo envolvente.


O retorno para a cidade de São Paulo se tornou assim tortuoso. A interrupção do tempo orgânico para o adequação ao tempo sintético, como formulou Nego Bispo nos faz prestar atenção em como o colonialismo está presente, desorganizando o nosso campo emocional e físico. Acordar ouvindo barulho de buzina e sentir a casa vibrando pelos trilhos veloz que corre o metrô. As paredes de concreto brancas, como em um hospital, vai nos levando dia após dia para enlouquecimento , trazendo aflição para esse corpo tão pulsante quando perto da natureza.



Estou aqui no exercício de tentar recordar o primeiro dia que tiver a sensação de estar imersa na natureza e o que me vem a memória é o sítio,  talvez em Guarulhos, da Marlene, prima de minha mãe. Subimos um barranco e nesse barranco a gente vê uma casa bem pequena . Ao fundo dessa casa tinha uma árvore frutífera talvez amoreira. Era possível ver uma área verde gigantesca. Eu era ainda pequena talvez 6, 7 anos no máximo 9 anos.


Minha mãe tinha esse cuidado de nos colocar perto do mar ou de alguma área verde na nossas férias que duravam cerca de 10 dias. Faço um salto para lembrar na nossa viagem para Juquitiba interior de São Paulo onde pela primeira vez eu entrei numa cachoeira. E ali marca o meu primeiro medo porque lembro de ter entrado com todo impulso, porém uma das minhas pernas afundou entre as pedras. Meu tio Cláudio foi quem me recuperou dessa situação.


Fico aqui me perguntando: será que se eu tivesse ido no ano seguinte para a mesma chácara eu teria enfrentado aquela cachoeira? Fato é que demorou muitos anos até que eu fosse de novo para outra, talvez uma memória bem recente já na minha fase adulta e aí o medo já tinha tomado o meu corpo. Nunca mais resolvi encará-lo. Mesmo em Ubatuba a sensação de estar muito perto tanto do mar quanto de cachoeiras, envoltos pelas áreas verdes da Mata Atlântica, fazia com que eu percorresse quilômetro seja a pé ou de bike e guardo memórias de muito afeto naquelas caminhadas que chegavam a durar horas, apesar de ter medo daquilo que me constitui: água, terra, ar e fogo.


Pensando nesse corpo Atlântico com o produtor de investigação de si, uma busca que pretende encontrar não só a resposta pelo caminho mas também conexões que possam revelar novas perguntas, além de outros desejos e caminha para encontrar junto a outros corpos atlânticos resolução e reparação. Parecem urgentes!


Nos aceitar como parte de algo maior nos faz reconhecer a nossa dependência enquanto subjetividades ou intersubjetividade como acreditam os povos bantos.




 
 
 

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©2025 por Monique Rodrigues do Prado

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