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A mulher de cor e o homem de cor: um diálogo a partir dos textos de Franz Fanon

  • Foto do escritor: Monique Prado
    Monique Prado
  • 21 de jun. de 2023
  • 3 min de leitura

Ao analisar os dois capítulos "a mulher de cor e o homem branco" e "o homem de cor e a mulher branca", Fanon faz uma avaliação das condições psicanalíticas do anseio do sujeito negro alçar a humanidade que o branco usufrui.


Naquele contexto o autor analisa o desejo enquanto um recurso de chamar para si o poder-existir que desloca o negro (martiniano) da sua condição de colonizado e o aloca na condução de francês.


Ocorre que ao analisar o interesse do colonizado em alçar a sua humanidade plena através do desejo, Fanon não abordou o negro em diáspora cujo desejo permanece nos seus, abordando somente aquele que vê o branco como via de acesso à subjetividade.



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Para o negro em diáspora que se mantém no território seria possível estrangular o desejo de ser um sujeito branco?


Considerando que o o intelectual era um sujeito negro martinicano na França cujo contexto sócio-político era de branquitude hegemônica (branca, européia e colonial) Fanon deixou de observar o negro que deseja o outro negro como fez depois Lélia Gonzalez ao falar da permanêcia na América Ladina.



Talvez esse desejo de ruptura sensorial, imagética estética e psicanalítica com a branquitude é o que constitui o desejo do negro em se relacionar entre si como um fruto do seu processo de investigação subjetiva plena.


A ameaça do falo do homem negro o coloca como principal inimigo do homem branco que quer, portanto, desfigurar o homem negro o empurrando para o aniquilamento. O homem negro quando se liberta de sua sede de vingança em possuir o que é do branco, compreende que a mulher branca é uma estratégia de ascensão perigosa, dado que poderá ter a sua subjetividade sequestrada pela branquitude a qualquer momento.


A mulher negra que se relaciona com o branco está na condição de afirmar o seu existir, pois desprovida de poder-ser se encarrega de se colocar em uma dinâmica de "escolhida" para alcançar o seu estado de humanidade plena, não em concorrência com a mulher branca, ou com o próprio homem negro, mas na tentativa de não ser empurrada à periferia da humanidade, já que está muito próximo do chão na pirâmide social. Por isso, o seu poder-ser está condicionado ao reconhecimento do outro.


A ruptura se dá então quando ela nega a promessa dessa suposta humanidade concedida pelo do homem branco. A mulher negra estando no chão da humanidade colonial estremece por dentro sua condição de preterida e passa a chacoalhar a estrutura desses laços afetivos, negando a subordinação de sua subjetividade, de modo a romper com esse espelho narcísico falseado pelo interesse de plenitude branca, já que a mulher negra, nunca será um homem branco.


O alívio do encontro de duas subjetividades negras é, por outro lado, atravessado pela violência colonial, razão pela qual a insurgência é também a emancipação desses corpos que compreendem que a não adequação à performance subjetiva-social leva o negro a aceitação de si mesmo.


A subjetividade negra no campo dos afetos nasce então pela ruptura que estreita uma percepção material do que é ser sujeito, agora não a partir da negociação com a branquitude, mas com a interrupção de estratégias de ocidentalidade. A cútis, o cabelo, a boca grande, os quadris largos… Assumir que o corpo negro é um corpo incidente e que não precisa de aprovação da brancura.

É da inadequação com as exigências subjetivas da branquitude que nasce o desejo de uma subjetividade 100% Negra. A inadequação é uma estratégia anterior, é a desobediência, de modo que a desordem psíquica é o que provoca o sujeito negro a romper com com o falso véu de alcance de humanidade (branca). As etapas perpassam pelo reconhecimento desse corpo enquanto um sujeito coletivo seja no campo estético, político e psíquico.


O negro depois que se descortina da branquitude tira o véu dessa desse confinamento, percebe-se então como uma unidade-conjunta, ou seja, o negro é partícula, mas é parte do todo. Apesar de estar na diáspora forçada e sentir o peso do banzo, essa saudade incessante de casa, lugar que muitas vezes nunca conheceu, vai perceber como diria o próprio Fanon que é uma gota de sol na terra.


 
 
 

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©2025 por Monique Rodrigues do Prado

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