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Home office: o público e do privado difusos

  • Foto do escritor: Monique Prado
    Monique Prado
  • 3 de jan. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 16 de jul. de 2023

O público e o privado ficaram difusos nessa pandemia.



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As relações de trabalho já davam sinais de que sofreriam alterações, sobretudo com o enfraquecimento dos direitos sociais e da pejotificação.


As consequências repentinas denunciavam os problemas estruturais decorrentes de classe, gênero e raça, já que mulheres, sobretudo negras, sentiram muito mais o impacto dessa nova conjuntura, em razão da sobrecarregar advinda das atividades não remuneradas e domésticas que se somatizaram aos afazeres laborais.


Quem não tinha escrivaninha, improvisou. Quem não tinha espaço, passou a trabalhar da cama mesmo. Se o wi-fi não apresentava alcance suficiente, o negócio era entrar na video-call pelo 4G.


Particularmente estou em home-office desde o final de 2018 por atuar em uma área analítica da advocacia, o que me permite maior flexibilidade territorial em relação as demandas mais recorrentes de um escritório.


Esses três anos direto de casa foram de muitos aprendizados: disciplina, criatividade, resiliência, auto-compaixão, inteligência emocional, fracassos, ansiedade, Burnout, stress, choros, alegrias, vitórias e muita terapia.


Com a entrada de um novo ano me vi em uma cena patética, embora muito comum entre nós homeofficeiros: vestida de pijama e touca de cetim com o laptop ligado em cima da cama, um caderno de anotações, uma agenda vencida, uma caneca de chá, um livro aberto, um creme hidratante e uma tesourinha de unhas. Um caos. Nada setorizado.


Me dei conta que o meu lado público e privado já estavam se entrelaçando de tal maneira que a minha personalidade virginiana já não está dando conta.


Senti decepção e vergonha, mas tudo bem.


No dia seguinte passei a mão no meu lado público carregando comigo um livro, um fone de ouvido e o laptop. Saí cedinho, comi um pão de queijo na rua e fui para o centro em direção ao escritório. Deixei para trás o edredom, a touca de cetim e a caneca para cultivar minha dignidade privada.


Ah, comprei uma agenda nova.



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©2025 por Monique Rodrigues do Prado

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