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As mulheres negras não abrem mão do afeto

  • Foto do escritor: Monique Prado
    Monique Prado
  • 23 de nov. de 2021
  • 2 min de leitura

Há uma grande preocupação nossa enquanto pensadoras interseccionais que arriscam fomentar a discussão de raça, gênero e classe de não universalizar a experiência subjetiva de mulheres negras as colocando na condição de objeto de maneira a dizer sobre elas aquilo que não condiz com a realidade. Esse foi por muito tempo o papel dos acadêmicos brancos, os quais abarrotavam as mulheres negras de estereótipos machistas e marginalizantes.



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Falar em primeira pessoa quando estamos tratando de mulheres negras é então fundamental para retirá-las da margem e alocar essas mulheres no centro de suas próprias vivências.


Discussões que permeiam o pensamento crítico; a fome de comer algo tão saboroso e o desejo por experimentar uma vida diferente da que se tem, atravessam o imaginário de mulheres negras que muitas vezes só possuem como aliado o sonho. Essa é uma ferramenta poderosa que traz a possibilidade de interromper em primeiro lugar o silêncio e quem sabe mais tarde o sofrimento.


Entre a máquina sexualizadora e estatísticas aterrorizantes que cerceiam a subjetividade plena do ato de amar, do erótico e da fantasia livre de estereótipos, mulheres negras são interditadas e postas na rebarba do desejo alheio.


Com efeito, amar como poesia, desejar como estética e amadurecer afetos longe do imaginário do outro, ou seja, da imagem pré-construída sobre quem e como ama a mulher negra, é estruturante para que elas estejam em amores e paixões saudáveis.


A pretensa força inesgotável que mulheres negras têm, é na verdade um fardo que fazem de um lado mulheres negras permanecerem em negação sobre a necessidade de processos terapêuticos e curativos e de outro lado caírem aos prantos quando se veem diante da solidão.


Imagens que atrelam o corpo da mulher negra a sexualização como se elas fossem fonte de prazer do outro retira delas o direito de manifestarem os próprios desejos de forma cristalina e sem filtro capitalista, patriarcal e sexista, palavras bonitas para dizer que ações como chamar mulheres negras de "fogosa", "quente, "safada" podem na verdade destruí-las.


Internamente os processos estão bagunçados porque o afeto é uma moeda de troca cara que poucos acessam em sua plenitude. O sujeito universal que deu conta de racializar e subalternizar a conjugação da categoria "mulher" e "negra" para tê-la a seu serviço começa a ser desmascarado como o grande forjador da História. Àquele que não sou falou coisas horríveis a respeito dessas mulheres como também violentou o seu corpo e ainda a ameaçou que não falasse nada.


Mas as mulheres negras resistiram a própria sorte e agora falam sobre essa dor secular de não usufruírem plenamente do afeto. Elas não dependem mais que o outro falem delas e dizem o que querem, ainda que sejam pouco ouvidas.


Como diria Lelila Gonzalez, a neguinha atrevida vai falar até ser escutada.


Se ainda hoje mulheres negras estão experimentando parcialmente as suas emoções ou ainda são vistas à serviço de terceiros, um acolchoado macio e sensível vem sendo construído por elas mesmas para que mulheres negras possam experimentar o amor e o afeto tranquilo. Elas não abrem mão disso.





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©2025 por Monique Rodrigues do Prado

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