A negrinha atrevida vai falar
- Monique Prado

- 22 de mai. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 31 de mai. de 2022
Mesmo em tempos de metaverso, a humanidade preta ainda é tão marginalizada e ferida. Sejam os corpos estirados nas calçadas das grandes capitais, seja no empecilho de um idioma para ingressar em uma grande universidade.
No último ano me preparei emocional e psicologicamente para fazer a travessia e enfrentar esses monstros que nos assombra. De outra sorte nada seria possível se não fosse a minha rede de apoio familiar, bem como do meu grupo de estudos com a mentoria excelente do Itéramãxe.
Hoje posso dizer que ingressei na maior universidade do Brasil, a USP. Espero francamente poder contribuir para que outras mulheres negras, assim como eu, adentrem esse espaço, de forma a falar sobre si em primeira pessoa, sem serem vistas como objeto, visto que não há qualquer neutralidade nos estudos geridos até aqui, uma vez que a maior parcela dentro desses espaços é do homem branco.
Por isso, quando em contato direto com a branquitude tentamos cotidianamente chamá-los a responsabilidade, pois apesar de todos nós enfrentamos jornadas exaustivas dentro do guarda-chuva capitalista, negros e negras ainda precisamos enfrentar o medo de que lhes assaltem a humanidade.
Esses dias, ao tomar posse na minha posição de conselheira estadual na Ordem dos Advogados do Brasil, em São Paulo, tive a infelicidade de ouvir que eu deveria voltar "para o meu bueiro". Aquilo doeu tanto. Mas ouvir isso também me catapultou para sentir vontade de fazer com que cada vez estejamos nesses espaços para que não mais precisemos ter os nossos sonhos sequestrados.
Somos muitas, somos filhas de Dandara, somos gênero, raça e classe. Somos a maior parte da população brasileira. Somos a força produtiva e intelectual ocultadas e amordaçadas. Portanto, como diz nossa grandiosa Lélia, agora a negrinha atrevida vai falar.







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