O vão entre ilusão e a imaginação
- Monique Prado

- 6 de jun. de 2022
- 2 min de leitura
Hoje mergulhei no meu território interno para encontrar algo que me desse material sobre a diferença entre ilusão e imaginação. Nós que estamos incansavelmente na busca pelo bem viver, somos atravessados pelos código de mundo, sendo engolidas pela vida cotidiana que nos devora a vontade de alterar os estado das coisas, em razão do próprio cansaço. Agora imagina se fosse diferente?

Entre o campo da ilusão e da imaginação, parece haver algumas semelhanças que dizem respeito à projeção, na maior das boas intenções e com vista a alterar a atual conjuntura, de modo a dar ao vazio certo sentido. Em contrapartida, entre a ilusão e a imaginação há uma bifurcação simbólica, onde a primeira se pauta na ausência de materialidade, enquanto que a segunda se estabelece com raízes consistentes.
Em tempos como o nosso, viver para fora, criando pulsão de vida e gentileza, amolda potencialidades e realizações, mas essas projeções não podem vir descoladas da realidade, mesmo quando o objetivo final seja alterar a realidade tal como posta. Quer dizer, estamos prontas para causar rachaduras ou criar frestas, para extrair das raízes, forças para o arvorecer milenar e deixar florescer a imaginação?
A ilusão se perde muito rapidamente porque está fincada exclusivamente em desejo, sem qualquer plano, tampouco qualquer ação, ou seja, ela se sustenta somente no campo das ideias.
De todo modo, não foram poucas as vezes em que a minha sobrevivência se pautou pela imaginação. Quando criança, tinha uma percepção egóica de que tudo que me cercava era criado por mim. Algo que a nossa psique em formação cria para nos fazer experimentar até onde o mundo é extensão da gente e vice-versa.
Até hoje tenho o hábito de criar rabiscos mentais para me proteger em um mundo paralelo como Lucas Silva e Silva que preferia recorrer à lua. Mesmo aterrissada aqui e a quilômetros de distância da lua, coloco toda energia para que esse universo possa se materializar. E é dessa maneira que vou criando um estúdio mental cujos ideais vão ganhando forma.
O afrofuturismo acredita que as respostas vêm a partir do que a gente já experimentou, de maneira que viver o amanhã está diretamente relacionado com a esteira do passado. Se temos liberdade poética para dialogar em espiral nessa infinidade de possibilidades do nosso viver, vejo com bons olhos franquear a imaginação como o nosso passaporte mais valioso para que tenhamos capacidade de intercambiar entre mundos e universos ainda a serem flagrados, prontos para serem vividos. Quando me refiro a mundo, digo dos mundos internos que estão freneticamente dialogando conosco, seja por meio de um beat de uma música, pelo sonho ou pela poesia. É possível habitar a imaginação.






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